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ProfessorArtista

 𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝘴.𝘮. 1. movimento contínuo; fluxo, corrente. 2. deslocamento no espaço; caminho, rota, percurso. 3. direção de um líquido corrente. 4. seguimento ou sucessão do tempo ou de fatos. 5. ligação, encadeamento, desenvolvimento.⁣

 Curso

Dentre as ações promovidas pela proposição Articulando , o Curso  ProfessorArtista busca explorar novas possibilidades de afeto e aproximação da relação escola e teatro na contemporaneidade. 

A proposta intenta borrar as fronteiras entre as figuras da/o artista e da/o professora/or,  e procura dialogar com as ideias expostas no livro Em Defesa da Escola – Uma questão pública (2015), dos autores Jan Masschelein e Maarten Simons.

A escola, mais especificamente a pública, e suas metodologias sofrem muitas críticas, é acusada frequentemente de ultrapassada, conservadora e opressora. Alguns defendem o fim da escola alegando um certo descompasso com a atualidade. As/os próprias/os professoras/es, muitas vezes, compartilham destes pensamentos, atribuindo as dificuldades de desenvolver o seu trabalho aos procedimentos arcaicos, burocráticos e engessados das instituições públicas de ensino.  

Culpada de más ações desde seu início nas cidades-estados gregas, a escola foi uma fonte de tempo livre – a tradução mais comum da palavra grega skholé -, isto é, tempo livre para o estudo e a prática oferecida às pessoas que não tinham nenhum direito a ele de acordo com a ordem arcaica vigente na época. A escola era, portanto, uma fonte de conhecimento e experiência disponibilizada como um “bem comum” (MASSCHELEIN e SIMONS, 2015, p.9).

Ao considerarmos que na contemporaneidade a ordem vigente é da produtividade, estimulada pelo poder econômico que visa o lucro, Masschelein e Simons defendem a escola como um espaço que deve suspender o aluno das demandas sociais e familiares, os colocando em contato com o conhecimento e os livrando das exigências da sociedade, desestabilizando assim a ordem estabelecida. 

 

A escola tem assumido muitas funções, que segundo os autores, não deveriam estar sob sua responsabilidade. Dentre elas, o papel de ser o trampolim para mercado de trabalho, o que na opinião dos autores (e na minha também) é um erro, visto que a escola não está para atender as demandas mercantilistas e sim do conhecimento e da formação  dos sujeitos. 

 

Portanto, os autores defendem que a escola se preserve do sistema operante, resistindo. Esta resistência deve estar incorporada a prática, não como discurso político, mas como ação que suspende o tempo comum, abrindo espaço para o tempo livre, livre para conhecer e conviver. Para este movimento os autores utilizam do termo profanação. 

Um tempo e lugar profanos, mas também as coisas profanas, referem-se a algo que é desligado do uso habitual, não mais sagrado ou ocupado por um significado específico e, portanto, algo no mundo que é, ao mesmo tempo acessível a todos os sujeitos à (re) apropriação de significado. (MASSCHELEIN e SIMONS, 2015, p.39)

 

É justamente neste sentido de profanar que os autores sugerem que a escola esteja desconectada da sociedade. Que ela não seja cooptada para atender demandas do sistema econômico capitalista e sim que possa ser um espaço de refúgio, de profanação. 

 

Mas a escola como “tempo livre”, segundo os autores, precisa ser criada e parece que a figura da/o professora tem um papel fundante nesse  processo.  Ainda com todos os percalços do mundo contemporâneo, ao fechar a porta da sala de aula, uma metodologia como ato de profanação pode ressignificar o espaço escolar, mas exige engajamento por parte da/o docente. Um comprometimento de alguém que é apaixonado por aquilo que faz e que não mede sua prática pelo valor do salário.

 

Nesse sentido os autores defendem que uma/um professora/or é alguém que ama seu tema ou matéria, que se preocupa com ela e presta atenção a ela. Ao lado do “amor pelo assunto”, e talvez por causa disso, também ensina o amor à/ao aluna/o. Como uma/um amadora/or, a/o professora/or não é apenas versado sobre algo, também se preocupa e está ativamente envolvido nesse algo.

Não só é conhecedor de matemática, mas apaixonado pelo assunto, inspirado por seu trabalho e pelo material. (MASSCHELEIN e SIMONS, 2015, p.77)

 

A partir da situação híbrida entre amadora/or (amor) e profissional, os autores se referem à/ao professora/or como amateur. Aquela/e  que faz por amor! A definição pode soar quase ingênua quando confrontada com a realidade do mundo capitalista, principalmente brasileira, que sucateia e coloca em condições precárias a profissão do professor (e da/o artista também), mas no meu entendimento as noções de professor amateur , da escola como espaço para o “tempo livre” e de  profanação possibilita dilatar as percepções dos interstícios entre professor  e artista, arte e educação. 

 

O fato de encarar a escola como um espaço de resistência, de suspensão do tempo vigente, já sugere uma aproximação com a arte, destacando aqui o teatro, mas  Masschelein e Simons apresentam  outra noção de escola que me parece ampliar ainda mais as afinidades com arte  teatral. Segundo os autores, (...) uma das palavras latinas para a escola, ludus, que também significa “jogo” ou “brincadeira”. Em certo sentido, a escola é de fato o playground da sociedade. O que a escola faz é trazer algo para o jogo, ou fazer alguma coisa no jogo. Isso não significa que a escola não seja séria ou não tenha regras. Muito pelo contrário. Isso significa que a seriedade e as regras já não são derivadas da ordem social e do peso de suas leis, mas, antes, de alguma coisa do próprio mundo – um texto, uma expressão matemática ou uma ação como arquivar ou serrar – e essa alguma coisa é, de alguma forma ou de outra, valiosa. (MASSCHELEIN e SIMONS, 2015, p.42)

Pensar o espaço escolar sob essa perspectiva, como um lugar de jogo, além de ressignificar a ideia estereotipada que se faz do ambiente escolar, amplia as conexões com o teatro. Neste caso, cabe chamar também para o diálogo Denis Guénoun, pois segundo o autor, “O teatro, hoje, está desnudado, consiste no jogo da apresentação da existência em sua precisão em sua verdade.” (GUÉNOUN, 2014, p.147). 

 

Se confrontarmos as ideias do espaço da escolar (educação)  e da arte teatral a partir das definições dos autores supracitados, podemos perceber que o jogo é uma afinidade fundadora de ambas áreas. Tanto o teatro como a escola trazem algo para jogo e expõe algo que é do mundo, o que possibilita criar interfaces entre as figuras do professor e do artista, do teatro e da educação. Assim, vale destacar que,

 

"Se os professores como mestres-escolas têm uma arte especial, essa é a arte de disciplinar (no sentido positivo de focar a atenção) e apresentar (como em trazer para o presente do indicativo ou tornar público). (...) E a arte de apresentar não é apenas a arte de tornar algo conhecido; é a arte de fazer algo existir, a arte de dar autoridade a um pensamento, um número, uma letra, um gesto, um movimento ou uma ação e, nesse sentido, ela traz esse algo para vida. É a arte de trazer algo para a proximidade, envolvendo-o e oferecendo-o." (MASSCHELEIN E SIMONS, 2015, p.135)

 

"O teatro não é mais um instrumento de conhecimento, seu prazer não é mais de uma aprendizagem. (...) E então? O que os leva a olhar? (...) Eis a hipótese: uma existência entregue à exposição total se entrega e se liberta diante de quem quer entregar e libertar a própria existência. (...) Trata-se de partilhar o jogo." (GUÉNOUN, 2014, p.149)

As noções expostas  sobre o teatro por  Guénoun, a ideia da/o professora/or amateur e da escola como espaço de jogo defendidas por Masschelein e Simons, podem colaborar para estreitar os lações entre docentes e artistas, assim como as áreas do Teatro e da Educação.

Neste sentido, com ênfase no jogo da existência, o Curso Professor Artista propõe jogar com o hibridismo inerente as proposições da/o professora/or e da/o artista, das/os  professorartistas, buscando maneiras para explodir as distâncias. 

 

A primeira realização  do Curso intitulou-se Curso de Teatro Professor e Artista e foi contemplado pelo PRÊMIO EDITAL ELISABETE ANDERLE DE ESTÍMULO À CULTURA 2017, com apoio da Cia Carona de Teatro, da Fundação Cultural de Blumenau, da SEMED – Secretaria Municipal de Educação, da GERED – Gerencia Regional de Educação e da rede Teatrando. Realizada no período de 08 de março a 13 de julho de 2018, a iniciativa   moveu-se  a partir da ideia de que os professores também podem atuar como mediadores teatrais nas escolas, buscando articular ações envolvendo discentes, dando a proposta um caráter  multiplicador. 

 

Para saber o passo a passo dessa caminhada, segue abaixo texto detalhado e as reverberações dessa experiência!
 

Texto sobre a segunda etapa da pesquisa - 

Articulando a Plateia de Teatro em Blumenau: ações e reações de uma caminhada movediça


Galeria de Fotos
Turma Semanal - Fundação Cultural de Blumenau 
Turma Quinzenal - Carona Escola de Teatro

Professor-mediador
Ações de Mediação dos professores participantes.
 

 

Seguimos Articulando...

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